Lula Côrtes & Lailson




















LULA CÔRTES & LAÍLSON - Satwa
SOLAR - LPP 005
Folk - Psych - 1973


Faixas:
Lado A
01 - Satwa
02 - Can I Be Satwa
03 - Alegro Piradíssimo
04 - Lia a Rainha da Noite
05 - Apacionata

Lado B
06 - Amigo
07 - Atom
08 - Blue do Cachorro
09 - Muito Louco
10 - Valsa dos Cogumelos
11 - Alegria do Povo




Em 1973, Lula Côrtes e Lailson gravaram o LP instrumental Satwa, considerado o primeiro álbum independente editado no Brasil. Gravado nos estúdios da lendária Rozemblit, Satwa foi o primeiro lançamento do selo Abrakadabra, montado pelo multi-artista Lula Côrtes e pela designer, hoje cineasta, Katia Mesel, sem vínculo com uma gravadora, até a estética deste trabalho, vem totalmente na contramão do que se lançava até então no mercado nacional.

Em 1971 Lailson já tinha uma banda de garagem com Paulo Rafael e Zé da Flauta a  banda Phetus. Em novembro de 72, o DA de Medicina resolveu organizar o  "Woodstock" local,  a Feira Experimental de Música de Nova Jerusalém, dois dias de "rock do pôr ao nascer do sol" e Lailson foi o coordenador da parte musical do evento, foi aí que conheceu Lula Côrtes e iniciou uma grande amizade, pois tínham muita coisa em comum (desenho, pintura, poesia, música, psicodelismo).

"Passado o festival, passamos a nos encontrar regularmente na casa dele e começamos a criar uma música diferente, eu com uma viola de 12 cordas e Lula com o tricórdio que havia trazido do Marrocos. Minhas influências eram o rock e o blues. Lula, pela própria escala do instrumento oriental, criava melodias que se assemelhavam a ragas indianas. Ambos temos um "sotaque" nordestino que transparece nas músicas que compusemos naquela época. Começamos a gravar domesticamente o que estávamos fazendo, as pessoas passaram a aparecer por lá para ver o que estava rolando e daí, para decidirmos gravar um LP, foi um pulo. Eu estava juntando uma grana para viajar, mas resolvi investir no projeto. Então, Satwa é o resultado de tudo isso, de todo esse momento, e da época. Viajamos na ideia do disco e Lula e Kátia falaram com seu Zé Rozemblit, pra saber o custo de estúdio, prensagem e impressão de capa. Nunca encontrei seu Zé Rozemblit. Pra ele, acho que éramos só uns meninos malucos que haviam alugado a fábrica. Kátia conhecia mais ele, pois são da comunidade judaica e o pai de Kátia era muito conceituado”, conta Lailson.

Gravado em 1973, Satwa traz a dupla Lailson/Côrtes tomada por uma lisergia pós-flower power. Músicas como "Alegro Piradissimo", "Valsa dos Cogumelos" ou "Blue do Cachorro Muito Louco" não deixam dúvidas sobre o conteúdo do vinil, na "Blue do Cachorro Muito Louco" (grafado “blue” nos créditos do disco), com a participação de Robertinho do Recife, primeiro guitar hero do Recife: “O Blues do cachorro muito louco era blues no sentimento, nos uivos, Mad Dog mesmo, mas um Dog muito Crazy, não exatamente um blues no estilo. Mas com a guitarra de Robertinho ganhou muito, ficando bem o contraponto do lirismo do resto do disco”, Lailson.

A Rozemblit, apesar de antiga, era acessível e dispunha de tudo o que era necessário: estúdio, prensagem e gráfica. Alugaram o estúdio de 20 a 31 de janeiro de 73 e graváram  varando as madrugadas. Foram horas de gravação, fazendo variações dos temas que estávam compondo, dos quais selecionaram as melhores versões.
"O estúdio tinha limitações técnicas que foram muito divertidas de contornar, como por exemplo, o fato de que se eu fosse fazer um overdub tinha que ficar tocando colado com a cabine de som, senão, dava um delay! A capa também foi um processo conjunto: o design é de Kátia Mesel, a fotografia da capa é uma experiência de Lula, as outras fotografias são de Paulo Klein e tem dois desenhos meus na contracapa" conta Lailson.

Satwa é uma palavra em Sânscrito que pode ser traduzida como sendo a interface, o equilíbrio, a harmonia, entre o corpo material e o corpo espiritual. Esse é o conceito fundamental do disco: um equilíbrio entre duas coisas diferentes que se harmonizam. O cérebro humano tem dois hemisférios, assim como o planeta Terra, e ambos se equilibram, mesmo através de conflitos. A música do hemisfério ocidental, seja o blues ou o repente de viola têm em si os elementos da cultura oriental.
O disco apresenta essa dualidade harmônica em todos os seus aspectos, como pode ser visto nas cores da capa: cian e magenta, duas cores absolutas. Não há preto, não há amarelo. Mas, sobre o branco, as duas cores absolutas se harmonizam e criam a identidade visual específica do disco.
As músicas têm e não têm letras.

 Os títulos dizem tudo o que se precisa saber sobre elas: "Amigo", "Atom", "Apacidonata", "Valsa dos Cogumelos", "Blues do Cachorro Muito Louco", "Can I Be Satwa?", "Alegria do Povo", "Alegro Piradíssimo", "Lia A Rainha da Noite" - são títulos e são versos, são letras. Mas se as músicas tivessem letras no sentido comum, elas teriam que ser submetidas à "censura prévia" da Polícia Federal da época, o que não faria nenhum sentido para o que estávam criando. Então, o que precisava estar escrito para dizer o que é Satwa, está escrito na contracapa.

A pequena tiragem foi dividida entre eles que vendiam os exemplares pessoalmente, a produção deste álbum e praticamente artesanal.

Nenhum comentário: