Caetano Veloso & Os Mutantes




















CAETANO VELOSO & OS MUTANTES
PHILIPS - 365.257
Tropicalia - Psych - 1968


Faixas:
Lado A
01 - É Proibido Proibir

Lado B
02 - Ambiente De Festival (É Proibido Proibir)


É Proibido Proibir, de Caetano Veloso é um dos acontecimentos máximos daquele setembro de 1968. Caetano agora em companhia dos Mutantes transformam a canção num "Happening" durante a fase de classificação do III Festival Internacional da Canção (FIC), um esporro sonoro, visual devidamente registrado pelas câmeras da TV Globo.
A palavra "Happening" (Acontecimento) passou a expressar algo mais, passou a significar multiplicidade de eventos revirando-se em dimensão histórica, força futurista imantando o presente e elevando linhas de passado a sofrerem guinadas e mutações.
No Teatro da Universidade Católica (TUCA), em São Paulo diante de um público  histórico, numa noite memorável e inesquecível, Caetano Veloso faria valer toda sua sabedoria e seu estilo para domar as feras daquela horda que berrava enfurecidamente nas poltronas.
Para contrabalançar aquela histeria coletiva, Caetano fez um longo, inflamado, porém sereno discurso impregnado de sabedoria que iria determinar novamente os rumos da MPB.
Algumas passagens daquela diabólica oratória:

“Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?... Mas que juventude é essa?... Vocês jamais conterão ninguém... Vocês são iguais aos que foram na “Roda Viva” e espancaram os atores... O problema é o seguinte: estão querendo policiar a música brasileira... E vocês? Se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos!... Deus está solto!...

“O episódio É proibido proibir ressume-se no seguinte: Guilherme Araújo, meu empresário, me mostrou na revista Manchete uma reportagem sobre os acontecimentos de maio em Paris que eu não quis ler, pois tenho preguiça de ler. Lembro-me que ele mesmo virou a página e disse: é engraçado, eles pixaram coisas lindas nas paredes. Esta frase aqui é linda - ‘é proibido proibir’. Eu falei. É lindíssima. Ele falou faça uma música usando esse negócio como refrão. Eu disse - ta. Passou. Eu não fiz. Daí ele me cobrou. Eu disse, faço. Achei meio boba, mas bonitinha. Todo mundo na hora achou bonita. No dia seguinte eu já a achava péssima. Até hoje só gosto do ritmo e de uma parte da letra que diz 'eu digo sim, eu digo não ao não'. Veio o festival da Globo. Eu não tinha nenhuma música bacana pra botar. Nem muita vontade de entrar no festival. Só me convenci a concorrer quando decidi pegar aquela música que eu não gostava e fazer uma esculhambação com o festival. A canção foi escondida pelo happening e pelas vaias. Sérgio Ricardo ficou intrigado nos bastidores ao ver minha alegria: ‘não entendo como vocês podem ficar tão contentes de serem vaiados’. Quando voltei para repetir a música Questão de ordem do Gil tinha sido desclassificada (o que me enfureceu porque eu achava o número dele genial) enquanto o meu É proibido proibir tinha merecido do júri as melhores notas. Entrei no teatro decidido a dar um esporro. E dei. Disse que o júri era incompetente e a platéia burra ou coisa assim. Ta lá no disco. (...) Até hoje me orgulho de tê-lo feito. E me congratulo comigo mesmo pelo fato daquela canção estar esquecida. De fato, falou-se muito do escândalo, mas o disco não vendeu e, de todas as canções que eu escrevi desde Alegria, alegria pra cá, É proibido proibir é uma das menos conhecidas do público. Jamais admitirei que alguém a tome como típica do movimento tropicália ou do meu trabalho em particular”.
(Caetano Veloso).

Naquela noite de festival no TUCA, todos os meninotes universitários feridos, reagiram violentamente aos novos significados contidos no bloco de informações que recebiam. Depois a ânsia de ‘estar por dentro’ abrandou as iras e trouxe adesões, dentro e fora do mundinho classe A e B dos universitários.
(Rogério Duprat).

Quando, nos anos 60, houve uma explosão criativa na MPB, o veículo que melhor industrializou as novas idéias foi a tevê. Lembra dos Festivais da Record? Num momento, a tevê chegou a ser um veículo de vanguarda se antecipando à própria capacidade de compreensão do público, dos estudantes, em particular, dos críticos e dos próprios músicos. Refiro-me àquela dramática noite da fase paulista do Festival da Globo de 1968, quando Caetano apresentou, ou tentou e tendo o Brasil inteiro contra si, a tevê foi o veículo com o qual ele contou para fazer aquela lúcida, agressiva e mais importante denúncia, que representou a meu ver, e parafraseando John Lennon, o ‘fim do sonho’ de um dos períodos mais vivos e criativos de nossa MPB.
(Júlio Medaglia).

Na eliminatória paulista de um daqueles FIC’s que o Marzagão promovia, nós acompanhávamos Caetano em É proibido proibir. No dia da final paulista Gil entrou em cena tocando uma calota de carro, e foi desclassificado. Em solidariedade, Caetano retirou a música, o que acabou nos classificando para o FIC com a música Caminhante noturno, que era suplente na classificação. E lá fomos nós para o Maracanãzinho, curtir nossa grande chance. Lá chegando, vejam vocês, fomos recebidos com um abaixo-assinado dos músicos e críticos, pedindo nossa desclassificação porque usávamos guitarras elétricas e não fazíamos MPB! Ah, sim: as quatro primeiras assinaturas da lista eu me lembro bem. Eram as de Geraldo Vandré, Danilo Caymmi, Edu Lobo e Sérgio Cabral”. O pessoal mais conservador se irritava com isso, cobrava um posicionamento - mania de classificação - o abaixo-assinado dos compositores tradicionais diziam que se recusavam a participar do festival por nossa culpa. Eles afirmavam que a guitarra não tinha nada a ver com MPB. E a gente lá, recebendo uma força dos baianos. Era a Tropicália quebrando preconceitos.
(Rita Lee).

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